Opinião - quero ir às compras a pé posso?

Em relação à pedonalização das ruas cada vez que o assunto é abordado surgem na comunicação social opiniões contrárias ou fortemente reticentes de Associações Comerciais, do lobby dos automóveis, de Confedarações do Comércio , etc... (Comerciantes com queixas da pedonalização das cidades-PUBLICO-03.08.2009)

Ora o comércio consiste numa relação de troca de bens e serviços entre duas partes - o comprador e o vendedor. Ambas as partes são necessárias para que a relação comercial se processe.

O que temos assistido na comunicação social é a um "direito de antena" exclusivo aos comerciantes, ou seja à componente vendedora das transacções comerciais, que fala em nome da componente compradora - o consumidor, mostrando capacidade de adivinhar, sem bases científicas quaisquer, as preferências dos compradores apenas pelos números das vendas de alguns retalhistas.

Posto isto lanço a questão: as grandes superfícies não são elas próprias grandes zonas pedonais,livres de ruído, de ar poluído, de riscos de atropelamento ao atravessar as vias de uma loja para a outra? Porque é que não auscultamos mais as preferências dos consumidores, no que toca à actividade de fazer compras, para que possamos adaptar o comércio tradicional às suas preferências?



Talvez cheguemos à conclusão, como vemos no caso da Rua Augusta na baixa de Lisboa, que a pedonalização e requalificação das ruas dando prioridade aos peões é uma mais valia para o comércio tradicional, acautelando sempre a acessibilidade às zonas de comércio através das diversas formas de transporte, de uma forma integrada e coerente.


Mais direitos aos peões e mais zonas pedonais e de acalmia de tráfego, não implicam, como tem vindo a ser mencionado erradamente, uma quebra de competitividade do comércio tradicional, mas antes tornam as condições do comércio tradicional mais próximas das excelentes condições de circulação pedonal a que os compradores têm acesso nas grandes superfícies - é esta a experiência que tenho constatado nas cidades europeias com maiores indíces de qualidade de vida e satisfação do seu tecido social e comercial.

Deixo o desafio - que as entidades associativas que defendem o comércio tradicional se preocupem, com o mesmo determinado empenho que revelam em relação à questão dos automóveis, em modernizá-lo em termos de imagem, de qualidade dos bens e serviços oferecidos, de diversidade e preços competitivos.



Nuno Xavier

12 comentários:

  1. Concordo com o que está escrito pelo Nuno.
    Em Almada os comerciantes andam a fazer guerra aberta à Câmara. E receio que em tempo de eleições o executivo daquela autarquia possa ceder.
    É importante que os cidadãos possam também eles mostrar o que pensam sobre este assunto, porque todos os dias os comerciantes de Almada têm aparecido nas televisões atribuindo culpas do seu negócio correr mal ao facto da Câmara, ter criado zonas pedonais.
    Faço votos para que a Câmara de Almada não ceda a estas pressões e é importante, também que os cidadãos defendam as pequenas vitórias que vão tendo, como a conquista de mais espaço para terem mais qualidade de vida.

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  2. Eu, pessoalmente, não me lembro de algum dia ter feito alguma compra dentro de um carro. É a pé que se vê montras, é a pé que se deixa seduzir por produtos ou preços, é a pé que se consome.

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  3. Informa-se quem possa estar interessado que as duas imagens da direita, em cima, correspondem às situações B e C dos «Prémios António Costa» - ver [AQUI].

    Dão direito a grande prémios (que podem ir até almoços de lagosta no Gambrinus!) a quem conseguir fotografar a EMEL, a PSP ou a P. Municipal a actuar ali.

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  4. (cont.)

    A zona referida (esquina da Av. de Roma com a R. Frei Amador Arrais, em Lisboa) é ultra-famosa pelo misterioso grau de impunidade ali atingido.

    Além dos prémios indicados, há ainda um outro, muito especial, para quem conseguir EXPLICAR porque é que NÃO HÁ MEMÓRIA de alguém, ali, ter sido incomodado por atafulhar o passeio com carros ou estacionar em 2ª e 3ª fila...

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  5. Também li a notícia do Público.

    Impressionou-me particularmente o exemplo de Torres Vedras, em que a Câmara se tem esforçado por limitar drasticamente o trânsito para o centro da cidade, onde já só se pode estacionar pagando (parquímetros), tendo, em alternativa, disponibilizado parques de estacionamento na periferia. Esses parques, segundo a notícia, estão a CINCO MINUTOS a pé do centro. CINCO MINUTOS. E os comerciantes queixam-se.
    Primeira conclusão: o problema parece ser a inqualificável preguiça das pessoas, que pelos vistos são incapazes de andar cinco minutos a pé.
    Segunda conclusão: o estacionamento no centro não deixou de existir. Para os super-preguiçosos que não conseguem mexer as pernas durante cinco minutos, continua a haver estacionamento no centro. O que se passa é que é pago. É o preço a pagar pelo super-comodismo. Não pode deixar de ser assim (eu até faria pior...). Não pode haver cedências. As pessoas é que têm de se habituar a andar.

    JL

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  6. para quê andar? viva a hipertensão! viva o colesterol! viva a barriguinha!

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  7. Uma outra questão tem a ver com o tipo de comércio local e a concorrência que este faz ao comércio das grandes superfícies. O comércio de rua nos centros das nossas cidades está-se a encher das mesmas lojas que existem nas grandes superfícies (Zaras e afins). O que é que leva então uma pessoa a escolher ir às "Zaras" do centro de Almada em vez de ir às "Zaras" do shopping à saída da cidade? Só pode ser uma de duas coisas: 1) as pessoas trabalham no centro e aproveitam para ir à loja no centro (e aqui é indiferente que haja ou não estacionamento à porta da loja); 2) ou vão porque preferem fazer compras ao ar livre, e neste caso trata-se de pessoas que com certeza gostam de andar, pelo que o problema do estacionamento também não parece que se coloque.

    A verdade parece ser outra. O comércio local tem vindo a perder muita clientela desde os anos 90, quando o país se começou a encher de centros comerciais. E os centros comerciais continuam a crescer como cogumelos. Porque pelos vistos há procura que chegue, pois caso contrário ninguém continuava a investir na criação de novas superfícies.
    E esta realidade não tem rigorosamente nada a ver com o estacionamento. Ela acontece, quer nos sítios onde houve pedonalização de ruas e/ou restrições de estacionamento, quer nos sítios onde isso não sucedeu.
    Desde há muitos anos que todos ouvimos os comerciantes locais a queixarem-se da perda contínua de clientes. Quando não existe nenhum problema de estacionamento, invocam que a culpa é dos centros comerciais, dos hipermercados, etc. Quem é que já se esqueceu da guerra que eles lançaram contra a abertura dos hipermercados e centros comerciais ao domingo?...
    Quando POR ACASO também existem restrições ao estacionamento ou ao trânsito automóvel, culpar estas restrições não passa de mero oportunismo e é tentar esconder o sol com uma peneira.

    O que se passa é que os portugueses, desde que descobriram os centros comerciais, não querem outra coisa. Preferem andar horas a fazer compras num centro comercial do que andar as mesmas horas a comprar nas lojas de rua. São gostos. E além de serem gostos, há outros pormenores a que as pessoas dão valor: nos centros comerciais há o mito de que podem encontrar de tudo num espaço reduzido (o que é só um mito). E sabem que podem fazer compras com mais segurança.

    Não parece que o problema seja andar 5 minutos a pé, pois em qualquer centro comercial é esse (ou mais) o tempo que as pessoas demoram a chegar com as compras ao sítio onde estacionaram o carro...

    As câmaras têm muita responsabilidade na situação a que chegámos. Não pela pedonalização das ruas e pelas restrições ao estacionamento, mas porque licenciaram e continuam a licenciar centros comerciais e hipermercados em evidente excesso. Depois, com tanta oferta de centros comerciais, é claro que o comércio local não aguenta. Em país nenhum aguentaria...

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  8. O jornal Público de ontem dá notícia de que, após muita controvérsia e discussão, a associação de comerciantes e EMEL chegaram a acordo quanto à gestão do estacionamento.
    Os comerciantes, lembremo-nos, queixavam-se que a cobrança de tarifas de estacionamento aos visitantes iria afugentá-los da zona, prejudicando o seu negócio.
    Aceitaram por fim um acordo que tornará gratuito o estacionamento apenas para si próprios e não para os visitantes.
    Isto revela que a sua preocupação, desde o início, não foi com a viabilidade dos seus negócios, muito menos com os seus clientes, mas tão-somente a de garantirem um lugar gratuito para os seus próprios automóveis.
    Não fosse isto à partida evidente, é ainda reforçado pelo único protesto que fizeram: "alguns dos automóveis dos donos das lojas não estão registados na zona, e, como tal, teriam que pagar por lá estacionarem".
    Mais uma vez se revela que é preciso bastante cepticismo na análise dos interesses destas associações de comerciantes no que toca os direitos dos peões e a organização do trânsito: revela-se que, mais do que no interesse dos clientes ou do negócio (que, por causa das rendas fixas, é difícil dar prejuízo), os comerciantes protegem o previlégio a que acham que têm direito, em ocupar a via pública gratuitamente com os seus automóveis pessoais.

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  9. Já esperava que a Câmara de Lisboa recuasse. Em ano de eleições, já era muita contestação...

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  10. A CM de Almada já cedeu a um grupo "poderoso" de paizinhos ricos que querem por os filhinhos no colégio com carrinho...

    Há Centros comerciais que até têm carreiras (autocarros) gratuitas para que os clientes lá cheguem...querem mais concorrência desleal??

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  11. Concorrência desleal ou ideia a ser copiada? O que impede o comércio tradicional de se organizar para alguma coisa além do choro vitimista que entôam a cada medida mais ousada que alguma câmara tente aplicar?

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  12. eu moro mesmo a dois passos do centro de ALMADA, a minha rua está rodeada do tal comércio tradicional, e eu nunca compro nessas lojas, porque? preços altíssimos (salvo algumas excepções), pouca escolha...
    o comércio tradicional está a morrer por culpa dos próprios donos, pois na sua maioria, parecem, ter ficado parados (perdidos) no tempo. não basta ter as portas abertas, é preciso inovar, torna-las mais atraentes... não é nada agradável entrar num, espaço. que de tão velho, parece SUJO.
    a zona pedonal de ALMADA, está quase sempre repletas de carro, só não vê quem não quer e os passeios servem para parque de estacionamento. nesse site, há belos exemplos daquilo que digo.é necessário dizer mais?

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