Como levar o filho menor para a escola?

Recebemos a seguinte carta de um dos leitores:

O nosso leitor, que nos refere que leva todos os dias a filha menor para a escola A PÉ, sente-se profundamente indignado e revoltado, pelo facto de os passeios estarem repletos de carros, afetando negativamente por conseguinte, a segurança, a mobilidade e o conforto desse mesmo trajeto. Quando se questionam os condutores perante tamanha alarvidade civilizacional e falta de respeito pelos mais vulneráveis, visto que a questão da legalidade já lhes diz nada ou muito pouco, a resposta, apesar de parecer pueril, é sintomática do problema: os condutores afirmam serem eles próprios pais, que também levam os seus filhos menores para as escolas, mas no seu caso, apenas de carro, "visto que a função dos pais é providenciar o melhor para os seus filhos"!

Na civilização a norte dos Pirenéus; visto que há muito boa gente francófona, germana ou anglófona, quiçá mesmo xenófoba admitamos, que considera que a civilização europeia termina na referida cordilheira; não consta que os pais não gostem dos filhos. Mas apesar de serem muito mais ricos por essas paragens, não têm esta saciedade indomável e quase primária de querer levar os filhos para as respetivas escolas, apenas de bólide particular. É uma questão de lógica, não muito mais complexa que a booleana, que qualquer primata amestrado consegue apreender. Quantos mais pais houver que levem os seus filhos de carro particular, para alegada e putativamente, providenciarem mais conforto à prole no árduo e estoico trajeto que precisa de realizar entre a casa e a escola; mais inseguro, poluente, perigoso e desconfortável, ficam os trajetos das crianças que não se encontram nesse grupo, e que vão a pé ou de transportes públicos para a escola. Assim, porque os pais que levam os filhos a pé para a escola também os amam, e ao contrário do que regurgita a vox populi, não são irresponsáveis; mais vontade também eles sentem de levarem os filhos de carro, para que as crianças não tenham de passar a cada dia, por périplos árduos e inseguros, que até em casos raros podem ser fatais. Assim, estamos perante aquilo que se denomina no controlo, de realimentação positiva, e o sistema tende para que todos os pais queiram levar os seus filhos de carro para a escola.

Como em qualquer sistema de realimentação positiva, a tendência exponencial só é quebrada perante a saturação (não há mais pais a levar os filhos a pé para a escola), ou quando as próprias variáveis forem fisicamente quebradas. Neste caso, por exemplo, quando a polícia começar a aplicar coimas aos pais infratores, aplicação essa sem dó nem piedade, pelo facto, de, no putativo amor que têm pelos filhos, estacionarem selvaticamente, desconsiderando a segurança dos filhos dos outros. É que os mamíferos têm essa tendência salvífica de amarem acima de tudo, por norma primária, apenas os próprios filhos, sendo que aos filhos dos outros cabem os respetivos pais cuidar. O nosso leitor, por diversas vezes, fez queixa às respetivas autoridades policiais. Não fez queixa uma vez, nem dez, mas mais de cinquenta! Mas o cenário repete-se, com a frequência com que diariamente o sol nasce e os polícias se alimentam. É a polícia que temos, um coio e antro de incompetentes, que não só não atuam, como não deixam os cidadãos atuar voluntariamente, sob pena de serem catalogados de vigilantes.

No dia em que o nosso leitor, no desígnio pela proteção da integridade física da filha menor que tanto ama, começar a partir vidros e furar pneus dos carros que selvaticamente estacionam nas zonas exclusivamente pedonais, a polícia, no seu sacro dever emanado pelo Parlamento para fazer cumprir a Lei, mais especificamente para proteger a integridade da propriedade privada, eufemismo para lataria perigosa, espaçosa, poluidora e ruidosa, agirá com a velocidade de um Speedy Gonzales lusitano, cioso dos seus deveres judiciais. Talvez valha a pena enveredar pelo vandalismo. É que pelo caminho, na senda da aplicação da Lei, talvez a polícia se lembre mesmo de aplicá-La, mais precisamente o artigo 49.º do Código da Estrada.

6 comentários:

  1. Então e os autocolantes? Tem um efeito semelhante sem tais consequências... e se calhar mais pedagógico...

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    1. Quais autocolantes? Estes gajos não enviam autocolantes a ninguém há décadas!

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    2. Faz como eu, perdes o amor a 6 euros e diverte-te a colar. Também uso folha impressa com cola de água. Tem o mesmo efeito!

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  2. Afirmo por experiência própria que esvaziar pneus, não furar apenas esvaziar, tem um efeito extremamente pedagógico. Não danifica, mas provoca um grande transtorno. Reciprocidade, é o que essa gente merece. No meu bairro faço sempre isso e por norma os infractores percebem a mensagem.

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  3. Excelente posta!
    Eu não culpo os animais que estacionam no passeio. Os animais, tal como na selva, fazem o que podem e aquilo que lhes deixam fazer.
    Eu culpo sim as autoridades, que se estão completamente a borrifar para isto!

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