Sensibilizar cidadãos e governo para o impacto da qualidade do território na qualidade de vida, desenvolvendo acções para melhorar o actual estado de caos

Olá a todos

Resolvi aproveitar a oportunidade dada pelo governo e utilizar a plataforma "O Meu Movimento" para criar um movimento sobre ordenamento do território, urbanismo e arquitectura. Uma vez que me parece que muita gente aqui do blog terá também interesse por estes temas, resolvi dar-vos a conhecer o movimento, que está acessível neste link:

http://www.portugal.gov.pt/pt/o-meu-movimento/ver-movimentos.aspx?m=1084

Caso estejam de acordo, apoiem o movimento usando o botão respectivo, e se acharem adequado divulguem no blog!

Abraços a todos!









Sensibilizar cidadãos e governo para o impacto da qualidade do território na qualidade de vida, desenvolvendo acções para melhorar o actual estado de caos.


O Ordenamento do Território (a definição de quais actividades devem ser localizadas em cada área do território), bem como o Urbanismo (a forma como os espaços urbanos são pensados e desenhados) e a Arquitectura (o desenho dos edifícios em si) são três factores determinantes para a qualidade de vida da população, e têm grandes implicações no desempenho económico do país: áreas urbanas mal desenhadas exigem muito mais recursos para serem adequadamente servidas por estradas e redes (de transportes, energia, saneamento, telecomunicações, etc.) e com equipamentos colectivos (escolas, hospitais, polícia, teatros, cinemas, campos desportivos, jardins, etc); são ainda mais difíceis de limpar e de policiar; e por outro lado geram mais custos, ao obrigarem a percorrer maiores distâncias – roubando aos cidadãos tempo que poderiam usar para si ou para os seus, e fazendo-os gerar mais poluição e acidentes com essas deslocações desnecessárias. São também estes três factores que definem a agradabilidade do espaço urbano e a forma como as pessoas se relacionam com esse espaço – e quanto melhor for essa relação, maior será o incentivo à preservação dum espaço que é de todos. Durante várias décadas estes aspectos foram descurados por todos, permitindo-se situações incríveis e praticamente irreversíveis, que destruíram por completo diversas áreas urbanas e rurais (exs.: o crescimento desordenado dos subúrbios de Lisboa e do Porto; a decadência de muitos centros urbanos consolidados; a destruição da beleza da costa Algarvia com urbanizações turísticas caóticas e desqualificadas, etc). Isto aconteceu tanto por incúria das entidades responsáveis como por falta de acção dos cidadãos, que por desconhecimento não souberam exigir os devidos padrões de qualidade que um país com a beleza natural e patrimonial de Portugal merecia. Como resultado, temos hoje um país com vastas áreas residenciais descaracterizadas, feias, disfuncionais, marginalizadas, deprimidas e sem qualidade ambiental, sem espaços verdes de qualidade, e por outro lado com núcleos históricos valiosíssimos mas degradados e decadentes. Tudo isto ligado por más redes de transportes e intercalado por territórios desqualificados sem carácter urbano nem rural, mas que oferecem o pior destes dois mundos. Por falta de informação e desconhecimento de outra realidade que não esta, os cidadãos nem percebem que os locais onde vivem (e por inerência também a sua qualidade de vida) podiam ser muito melhores do que o que são, e como tal não exigem mais do que aquilo que têm, nem colaboram activamente nessa melhoria. E assim a situação vai-se eternizando numa espiral que, se não for combatida, levará a que Portugal se torne num país com um “desordenamento” indigno dos seus desígnios, do seu potencial e da sua história. Assim, so propósitos deste movimento são (1) sensibilizar a população para o que são a qualidade do Ordenamento do Território, do Urbanismo e da Arquitectura, e as implicações destes na sua vida diária: nas suas deslocações e no acesso a locais importantes, na qualidade do ambiente em que vivem e na beleza da paisagem que vêem todos os dias, na quantidade das oportunidades de lazer de que usufruem, na eficiência das infraestruturas que as servem, etc.; (2) levar à alteração das leis e à maior eficiência do seu cumprimento, por forma a corrigir e a melhorar a qualidade do território que hoje o país apresenta; e (3) mostrar aos cidadãos que é necessário um trabalho conjunto com as entidades públicas para levar a cabo estas melhorias, dando-lhes a conhecer os seus direitos (exigir qualidade, fiscalizar acções) e os seus deveres (cuidar e zelar pelo bem público, ter pro-actividade na busca e na aplicação de soluções, obedecer às regras em vigor). Se também sente que o território português está muito aquém do que podia e devia estar, e se acredita que os cidadãos podem iniciar a mudança para o melhorar, junte-se a este movimento. Vamos fazer de Portugal um país melhor!
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Aqui ficam umas instruções rápidas sobre como apoiar o meu movimento:

1) Vão a esta pagina e registem-se, seguindo as instruções:
http://www.portugal.gov.pt/pt/perfil.aspx

2) Depois de estarem registados façam login, e depois acedam ao meu movimento através do link:
http://www.portugal.gov.pt/pt/o-meu-movimento/ver-movimentos.aspx?m=1084

3) Depois disto, é só clicarem no botão "Apoiar" que aparece no final da pagina, do lado direito!

Envio-vos em anexo algumas imagens que são uma pequena amostra do motivo pelo qual acho que isto é um assunto muito importante para o nosso país...

Apoiem e divulguem até ao dia 29/Fev!

Esta cidade não é para peões

Esta cidade não é para peões
Por José Vitor Malheiros, Público, 21 Fevereiro 2012

Gosto de andar a pé. Pequenas passeatas ou grandes caminhadas, na cidade ou no campo, trajectos de todos os dias ou deambulações de fim-de-semana. O meu andar a pé não é trekking nem hiking. É só andar a pé. Às vezes mais depressa, às vezes lentamente, às vezes parado. O meu andar a pé também não é de maratonas. Posso fazer cinco ou oito ou dez quilómetros por dia (ao fim-de-semana). Raramente mais. Gosto de fazer a pé os trajectos que faço em transportes públicos. Saber a que se parece a superfície por baixo da qual anda o metro. Como são as lojas desta avenida onde o autocarro salta de paragem em paragem. Qual é a distância, em passos, que vai desta estação de metro àquele jardim.Do jardim ao café. Saber se há alguma drogaria naquele bairro. Se a retrosaria ainda existe. Durante a semana os meus passeios raramente saem de Lisboa, o que não querdizer que sejam todos urbanos. Ou sequer suburbanos. São frequentemente todo-o-terreno, um percurso de combatente, quase um parcours de parkour. E onde menos se espera. Não é preciso andar à superfície da linha vermelha do metro (que vai para a Estação Oriente, no Parque das Nações) para entrarmos num cenário pós-apocalíptico.

Estão a ver Entrecampos? Na fronteira entre a Avenida da República e o Campo Grande? Uma zona nobre e central da cidade. Há uma avenida que sai directa de Entrecampos em direcção a Sete Rios, onde está o Jardim Zoológico. Pouco mais de dois quilómetros, sempre em frente, entre dois jardins. O caminho? Praticamente intransitável. Intransitável para peões, entenda-se. É uma terra-de-ninguém, que exige atravessar corta a cidade em vias rápidas sem passadeiras, caminhar ao longo duas zonas quase de passeios inexistentes, aguentar os carros que passam a cem à hora a um metro de distância. Se digo a algum lisboeta que fiz esse trajecto a pé vias rápidas e temos dizem-me "Ah, mas isso não é para andar a pé..." "Por que não?" "Porque não foi feito para isso", dizem-me. "Por que não?" "Porque foi feito para carros." É verdade. Toda a cidade foi feita para carros. Com raras excepções, a cidade que fizemos nos últimos cinquenta anos foi feita para carros. Às vezes, há uma pequena mancha pensada para pessoas. Mas para lá chegar é preciso ir de carro. Ou, no melhor dos casos, de metro. A pé? Não, não foi pensado para isso.

Tente ir a pé da Avenida do Rio de Janeiro a Benfica. Dois bairros residenciais. Aqui já estamos no nível dos sete quilómetros. O caminho mais directo passa pela Avenida Lusíada, mas não se deixem enganar por este "Avenida". É preciso atravessar uma terra-de-ninguém, atravessar vias rápidas sem passadeiras, saltar uns separadores, conviver com o lixo e a desolação. Sempre sem sair do "tecido urbano". Mas não se pense que se trata de um via reservada a automóveis, como a Segunda Circular ou algo semelhante. Estamos na cidade. Há prédios pelo caminho, sítios onde vivem e trabalham pessoas mas onde toda a gente chega de carro. Há outros trajectos possíveis? Há, muito mais compridos, que desincentivam o andar a pé. Os caminhos directos, as "avenidas", são para os carros. Lisboa está cortada de vias rápidas que às vezes se chamam "avenidas" mas que dividem a cidade em bantustões, sítios de onde só se pode sair de casa de carro, onde as crianças não podem brincar com o amigo que mora do outro lado da rua porque o outro lado da rua ou fica a dez minutos de carro ou exige arriscar a vida num atravessamento pedonal. Temos vias rápidas a cruzar as principais praças da cidade, o Areeiro, o Marquês de Pombal, Sete Rios, a Praça de Espanha, o Campo Grande e a Avenida da República transformadas em auto-estradas. Mas cada via rápida corta a cidade em duas zonas quase incomunicáveis. Duas vias rápidas e temos quatro bantustões. Com três já podemos ter sete colonatos independentes. E isto no centro da cidade. Como é que os decisores da autarquia — das autarquias — não percebem isso? Andam de carro. Já tive discussões com "especialistas de mobilidade" lisboetas que não sabem que na Fontes Pereira de Melo, no coração da "cidade moderna", há um pedaço sem passeio, roubado quando da construção do Imaviz, onde uma pessoa de cadeira de rodas tem forçosamente de ir para a estrada. Nunca andaram ali a pé. 

Uma condição essencial para ser presidente da Câmara de uma qualquer cidade deveria ser andar só a pé durante a campanha eleitoral. Ou a pé e de bicicleta. Visto que conhecer as necessidades do trânsito automóvel já eles conhecem. Não uma tarde, a convite de uma associação de cidadãos com deficiências, com as TV à volta e todos os trajectos estudados previamente pelos assessores. Toda a campanha. Uma cidade não é assim tão grande.

Tornar as cidades amigáveis para os carros parece ser o principal objectivo dos autarcas. Cidades como no filme Cars, onde os protagonistas são carros, os amigalhaços são camiões e as raparigas giras são carros sport. É claro que os eleitores que estão dentro do carro agradecem e os que estão fora dos carros são cidadãos de segunda, mas a falta desta vivência da cidade, a pé, torna os contactos entre as pessoas mais raros, mais distantes. E a relação couraçada que os automobilistas têm entre si dificilmente se pode considerar uma relação de vizinhança. É, como gostam os neoliberais, uma relação de constante competição.

É de vias rápidas que se faz a dissolução da sociedade, da cidade, das vizinhanças, dos bairros, das relações, da solidariedade, das pessoas. Um dia vamos perceber que conseguimos chegar muito depressa a todos os sítios onde não queremos ir. Metidos em cápsulas herméticas de transporte, navegando entre o sofá da televisão e o cubículo do trabalho, com auscultadores nos ouvidos para ouvir música ou escolher a gravação da voz sintética do call center, que nos indica o melhor caminho para a solidão.







Com uma vénia de agradecimento a um dos nossos blogs preferidos.

E a um excelente jornalista que já moderou o nosso debate com os candidatos à Câmara Municipal de Lisboa. Curiosamente teve que relembrar no final, a alguns dos representantes dos partidos políticos, que eram adultos e que, para além da guerra partidária, o que se debatia naquele dia era a qualidade de vida do peão em Lisboa.

Rua Andrade, Anjos, lisboa

Uma manhã como outra qualquer nos Anjos.
Isto já é para lá de ilegal. É absurdo.




contribuição recebida por e-mail

PL

«Dá o que não é teu»


Lisboa - Campo Pequeno
Cena de todos os dias...
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Há algum tempo, mostrou-se [AQUI] uma cena quase igual a esta: a carrinha VW, que tem direito a um lugar reservado a deficientes, galga o passeio e oferece metade do seu espaço a outros carros - uma generosidade que nada lhe pesa, pois é feita à custa dos peões («Dá o que não é teu» - já aconselhava Álvaro Pais ao Mestre de Avis).
Na cena do post anterior, isso era feito em proveito de um Mercedes. Mas, como se pode ver aqui, os beneficiados vão mudando...
Além disso, há uma novidade: como se pode ver no canto inferior esquerdo, alguém fez uma rampazinha em cimento para ajudar a tão altruísta manobra!
Dir-se-á que não é grave. Talvez não seja, mas é paradigmático.

A Nossa Terrinha

Numa viagem por Portugal encontrei muitas situações do carro feito senhor, aqui três exemplos.

Viseu foi considerada pela Deco a cidade portuguesa com melhor qualidade de vida em 2007. Qualidade de vida deve ser poder estacionar o mercedes no meio duma praça do centro histórico, perto da Sé.

Em Lamego também se encontra o pessoal do "estou a trabalhar", numa rua pedonal (Rua da Olaria))

E o caso assustador de Ponte de Lima, em que a zona da costa, onde devia existir um agradável "passeio marítimo", a juntar ao centro histórico, está feito num GIGANTE parque de estacionamento em terra batida.








Contribuição enviada por e-mail.

O título é da nossa responsabilidade, em jeito de singela homenagem ao blog com esse nome que presta um grande serviço informativo.

PL

A malta do «Estaciono no passeio porque não há parques»

A foto de cima documenta o estacionamento selvagem junto do parque de estacionamento existente na Praça do Chile, em Lisboa. A de baixo mostra o estado habitual do mesmo parque: completamente às moscas
*
- Porque é que o senhor estaciona em cima do passeio, incomodando tanta gente?
- Ora, porque não há parques.
- Mas o parque aqui ao lado está completamente vazio!
- Pois está, mas é preciso pagar.
- E o senhor, se for multado, não vai ter de pagar muito mais?
- Diz bem, "se". Mas garanto-lhe que isso nunca sucede aqui.

Como "eles" acarinham os transportes públicos


Hoje, e mais uma vez, os transportes públicos viram o seu preço aumentado. Estas fotos, também de hoje, mostram como, em Lisboa (por omissão e incompetência), os mesmos serviços são tratados por aqueles a quem pagamos o ordenado para os proteger e acarinhar.