Já ali morreram pessoas...


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Dos 35 pinos colocados durante a tarde de sexta-feira, apenas dois estavam, ontem de manhã, de pé. O estacionamento voltou a ser possível em cima do passeio
Era uma obra reclamada há vários anos. «Pelo menos há seis», confidenciou um morador da Corrente. O tempo que demorou a construir, esse, foi significativamente menor. Quanto ao tempo que demorou a destruir, foi, ainda, expressivamente mais reduzido. Não a totalidade do investimento, diga-se, mas apenas parte. É que o passeio continua lá, mas dos 35 pinos, com cerca de 30 centímetros de altura, colocados na tarde de sexta-feira, apenas dois se mantiveram de pé, uma vez que os restantes 33 foram secretamente retirados durante a noite.

Aproveitando a “calada da noite”, sem ser preciso recorrer a grande força, pois o cimento ainda estava fresco, os pinos foram arrancados um a um de um passeio com perto de uma centena de metros. Os que mostraram maior resistência acabaram por ser “amarrotados”. Todos foram deixados no local, encostados à parede. Quem sobe de Coselhas em direcção a Lordemão, a determinada altura tem de abrandar para passar sem riscos no afunilamento da via. Assim que a estrada volta a ganhar largura, começam a aparecer, do lado direito, o passeio e os pinos da discórdia.

Ontem, a reportagem do Diário de Coimbra deslocou-se ao local e atestou a diferença de sentimentos. A indignação de alguns moradores, sobretudo os mais avançados na idade e, por isso, mais necessitados de caminharem em segurança, pelo estrago contrastava com a satisfação de outros por terem, de novo, espaço para estacionar. Com o passeio poucos discordam, o problema foi mesmo o impedimento de parar ou estacionar causado pela colocação dos pinos.

PSP esteve no local
Comum aos defensores e aos atacantes da obra, a cargo da Junta de Freguesia de Santo António dos Olivais, o silêncio. Ou melhor, a não cedência de identificação pessoal. Curioso, também, é o facto do lado contrário da rua pertencer à freguesia de São Paulo de Frades. O objectivo da colocação dos pinos no já mencionado local foi apenas um: não permitir a paragem e o estacionamento, “libertando”, desta forma, o passeio apenas para o fim que lhe está destinado: a circulação pedonal.

O problema é que, dizem, muitos são os que por ali vivem que não têm garagem e/ou outro local para deixar o carro, pelo que, desde sempre, deixaram o carro na berma. Mas há também quem garanta a existência de vagas para estacionamento alguns metros mais abaixo ou acima. Sem se identificar, uma moradora na Corrente, embora concorde com o passeio, disse estar contra a colocação dos pinos, mas, também, contra quem os retirou sem autorização. «Nem uma coisa, nem outra», reforçou, antes de acrescentar: «Era preferível as pessoas terem falado».

Enquanto esteve no local, a reportagem do Diário de Coimbra presenciou o estacionamento de várias viaturas em cima do passeio. A PSP foi chamada ao local para tomar conta da ocorrência. Contactado pelo Diário de Coimbra, Francisco Andrade, presidente da Junta de Freguesia de Santo António dos Olivais, disse ainda não ter conhecimento da “queda” dos pinos, em virtude de se encontrar ausente em Lisboa, a participar no XII Congresso da Associação Nacional de Freguesias.

«A junta recebeu um abaixo-assinado da população a solicitar para que não fosse permitido os carros pararem na curva. Fizemos a obra com a fiscalização da Câmara de Coimbra. Houve alguém que não gostou e arrancou os pinos. Agora, vamos tirá-los e a divisão de trânsito da Câmara que resolva, que meta lá um traço amarelo, que faça o que entender. Posso lembrar é que já ali morreram pessoas», terminou o autarca de Santo António dos Olivais.

in Diário de Coimbra 25 de Janeiro 2009

11 comentários:

  1. exemplo perfeito do "portuguesismo" que existe neste país. É preferível ser fácil estacionar o carro a frente de casa do que haver espaço para as pessoas andarem a pé ou de cadeira de rodas livremente no passeio.

    Por outro lado, o estado continua a não querer tomar uma atitude sobre as anormalidades feitas nas estradas de Portugal por automobilistas.

    É um completo desprezo pelos cidadãos, e no caso desta noticia pelo próximo. Há mais amor pelos carros, que pelas pessoas. Muito triste.

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  2. Aqui está mais um exemplo que me faz pensar que Portugal caminha para o desfazimento - sem grandes convulsões, sem espectáculo, mas passo a passo, desfaz-se tudo o que faz um país digno desse nome. Estamos a tornar-nos bandos e, entre os bandos, ganha o mais forte.

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  3. Cada vez reforço mais a noção de que vivo num país de selvagens e o pior de tudo é que a lei está do lado deles.
    E parabéns ao PL por estar a voltar ao normal.

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  4. Imagine-se os "distúrbios mentais" ue são necessários, para alguém sair de casa pela calada da noite, com ferramenta, e destruir 33 pinos de BETÃO, apenas para poder estacionar à porta de casa.
    O automóvel tem um valor na nossa sociedade que eu não consigo compreender

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  5. ...e ainda acham que os autocolantes chegam?
    Para estes bárbaros só à pedrada!
    E o autarca que se demite das suas funções: «Agora, vamos tirá-los e a divisão de trânsito da Câmara que resolva»...
    Isto é aceitável?
    Isto é um Estado de Direito?
    Pq não fazem o mesmo quando me esqueço de entregar a declaração do IRS?
    E onde está o respectivo processo-crime? Na gaveta dos «para arquivar»?
    E o PL a constituir-se como assistente?..ahhhh espera, não pode. Não tem personalidade jurídica… é um… como é que as altas intelectualidades gostam de lhe chamar?

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  6. Isto passa-se na minha cidade e é uma autêntica vergonha!!!
    Vou ter que passar ali de noite, tb, para colar autocolantes em todos os carros que estiverem em cima do passeio.

    "O problema é que, dizem, muitos são os que por ali vivem que não têm garagem e/ou outro local para deixar o carro, pelo que, desde sempre, deixaram o carro na berma" - AZAR O DELES!

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  7. Eu costumo ficar-me pelos autocolantes. Mas juro que isto se fosse perto da minha casa, respondia ao vandalismo com vandalismo!

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  8. Simplesmente VERGONHOSO, NOJENTO, próprio de um País sem Lei, sem Justiça, completamente vazio de valores morais e intelectuais, a cair de podre por todos lados, mercê de um bando de macacóides que pensam que os outros é que têm culpa de eles terem uma lata com 4 rodas e quererem estacioná-la em frente à porta de casa! Como se fossem os peões os causadores de não existirem lugares para estacionar! Eu gostaria de ver uma verdadeira REVOLTA de modo a que os transeuntes começassem todos a andar pelo meio das ruas e das estradas, com o mesmo direito com que as latas andam por cima dos passeios! Mas existe carência de tomates na horta! Fala-se, fala-se, mas anda tudo à espera que algum maluco comece a fazer o que já fizeram lá fora: andarem por cima de TODOS os carros estacionados em cima dos passeios!

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  9. Não penso que seja carência de tomates. Uma passeata na rua impedindo o trânsito, teria de ser organizada e não espontânea e teria de se avisar os media e câmara/polícia. Já tinha sugerido ao passeio livre organizar algo do género, visto ser um site de referência, talvez até conjuntamente com outros como anossaterrinha e o menosumcarro

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  10. eu costumo caminhar muitas vezes na rua, atravesso na diagonal e afins. não é só para mostrar que o passeio tá ocupado, mas para reconquistar parte do espaço.
    nas fotos ate aos anos 60, ha sempre imensos peoes na rua. dp dos ano 70 foram excluidos e muitas vezes quase enjaulados (com aquela barreiras de metal) para os passeios e obrigado a contornar cruzamentos e afins

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  11. É horrível! Não posso crer! Como é que em conjunto podemos inverter isto? Façamos manifestações! Façamos abaixo-assinados!!!

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