"não merecia tanto"

Escreveu-nos o leitor JS:

Meus caros:
Pela primeira vez fui premiado com um autocolante vosso. Fui ao vosso blog e li-o atentamente: quer as opiniões dos 'lesados' quer as vossa motivações e argumentos. É claro que partilho as vossa opiniões e a selvejaria, que eu também vejo, merece a devida reacção. Mas, para quem não vive e só trabalha em Algés, e que chega a horas impróprias de um serviço 'around the clock' não tenho muita escolha: ou um lugar a pagar pois não sou residente, suportando assim mais um erro urbanistico da autarquia, ou então no passeio. E assim foi desta vez, deixando 1,12m para os peões passarem (mas não numa passadeira). Tudo certo, mas para tirar o autocolante tive de usar água, isto é, tive de desperdiçar água. E lamento, mas cada um com a sua 'pancada', permitam-me o seguinte comentário: gastei água e logo me arrependi, pois a minha consciência ficou pesada por aqueles que diáriamente a não têm nem para beber, e no fundo, acho que a minha 'prevaricação, não merecia tanto. Seja como for, este não é um desabafo amargo ao vosso príncipio mas, dá-me alento a que não colabore convosco na colocação de autocolantes mas sim na de papeis do tipo dos anuncios do Professor Mambo. Ou então noutras causas como o respeito pela vida, a preservação do ambiente, a educação, a civilização, como actividades cívicas positivas e pró-activas.Votos de saúde, que também é importante, para todos.
JS

A nossa resposta:
Caro JS,
Obrigado pelo esforço de nos escrever a expressar a sua opinião, reconhecendo as suas contradições. De facto, reconhecer que pratica uma selvejaria sobre os outros para poupar o seu dinheiro não deve ser fácil para alguém com uma consciência tão sensível ao sofrimento dos outros. Talvez se se deslocar de transportes públicos ou estiver disposto a andar umas centenas de metros se sinta menos amargo e com mais genuína vontade de contribuir para a preservação do ambiente, a educação, a civilização, como actividades cívicas positivas e pró-activas.

Deve ter percebido pelo blog e pelas dezenas de emails de felicitações que recebemos, que há quem ache que o acto de que você se auto-desculpa de facto merece uma nota de atenção. Nem sempre somos os melhores a medir as consequências dos nossos próprios actos.

Se considera que a sua prevaricação não merecia tanto, talvez a melhor maneira de aplicar a sua vontade de ser cívico, positivo e pró-activo fosse deflagrar uma campanha pela revogação da lei que restringe o estacionamento em cima dos passeios e das passadeiras e lhe impõe multas de até 300 euros - consideravelmente mais pesadas do que o transtorno que o nosso pequeno autocolante lhe causou.

Um carro sobre o passeio, para além de ocupar um espaço que não lhe é destinado, danifica o passeio (abrindo buracos e soltando as pedras da calçada) e torna infernal a vida de invisuais e mais difícil a vida de todos os peões, só para mencionar alguns dos problemas... por mais espaço que deixe disponível para alguns peões passarem. A queda de invisuais e idosos em calçadas danificadas é um dos acidentes mais frequentes nas nossas cidades. Um idoso que parta uma perna tem grandes probabilidade de ficar com sequelas para o resto da sua vida. Para muitos deles significa a morte por causas indirectas. Para além do mais, o carro sobre o passeio dá um exemplo que será infelizmente seguido por outros condutores que ajudarão a tornar o pequeno problema, num enorme problema.

Perante estes problemas nem mesmo o Prof Mambo nos poderá ajudar sem uma dose de empatia e respeito de cada um de nós.

16 comentários:

  1. Para a próxima que tiver que retirar o autocolante não use água, use urina.
    Se a justificação de que não há lugar não deve servir de desculpa para estacionar em cima de um passeio, a que não há lugar livre gratuito é de furar pneus. Se quando aceitou a proposta de trabalho teve em consideração os custos que tinha no carro, em combustível, possivelmente em portagens porque é que não considerou também os custos em estacionamento, visto este ser pago no local.

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  2. Macaco com o CÚ Pelado15 de abril de 2009 às 00:02

    21:14

    Isso é de uma hipocrisia - MEDONHA.

    Não seja parvo. A pachorra tem limites. Isso é o seu fundamentalismo a falar.

    Vá lá, não seja assim. O JS tem toda a razão. Mais uma vez os ilustres «fundadores» do blog ficaram mal na fotografia com a resposta dada ao JS.

    E mais não digo. senão ainda sou censurado...

    Thanks.

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  3. Caro Macaco com o CÚ Pelado
    Lembro-me que, há cerca de três anos, emitiram um debate na RTP1 àcerca da sinistralidade automóvel em Portugal. Entre os convidados estava uma senhora em cadeira de rodas a barafustar contra os coitados que precisam mesmo de estacionar em cima do passeio porque não têm outra hipótese. Ela queixava-se que era um martírio diário ter de circular em Lisboa devido à presença desses inefáveis bichinhos que ocupam quinze metros quadrados e pesam cerca de uma tonelada e teimavam em ocupar o espaço que em princípio era dela. Ela tinha ficado paraplégica devido a um acidente de automóvel, sendo ela condutora (não especificou as circunstâncias do acidente, mas para o caso em apreço não interessa). Durante o programa ela lá confessou que antes do acidente fazia o mesmo que criticava aos selvagens que só pensam no umbigo e consideram que ser português é ter um cachecol verde e rubro com as palavras "Forssa Portugal" estampadas ao redor do pescoço: estacionava em cima do passeio. E, curiosamente, a desculpa era a mesma: no sítio onde trabalhava não havia oferta de estacionamento suficiente. Isto é o que eu denomino de coerência.
    Agora diz-me, Macaco: se um dia ficares paraplégico vais ser hipócrita e protestar contra os imbecis que estacionam dois centímetros no passeio e deixam muuuito espaço para os peões passarem ou és coerente e resignas-te como os bovinos e até orientas os automobilistas nas suas manobras para estacionar nos passeios? De cadeira de rodas até és capaz de ter mais sucesso que os habituais moedinhas que se vêm em Lisboa.
    Boas pedaladas.

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  4. Eduardo Castro Solla15 de abril de 2009 às 01:13

    Vergonhosa resposta! Um cidadão vem aqui a bem e leva uma resposta destas? Pareceu-me bastante aceitável a sua reação e ainda fazem chacota... É uma vergonha! Olhem-se ao espelho e vejam o papel ridiculo que estao a fazer! Por mim não participo mais nesta fantuchada.

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  5. Realmente, esta resposta não foi a melhor. Acho que não é bem esta a intenção deste blog. Espero eu...

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  6. Estacionar no passeio é um abuso punível por lei. Estacionar no passeio 'deixando espaço' para os peões passarem é um 'Abusinho'. Um abuso pequenino...

    Quem é hipócrita?

    Quem nunca tropeçou numa calçada destruída que atire a primeira pedra. Agora tentem pensar nas pernas que terão quando tiverem 70 ou 80 anos...

    Defender que estacionar no passeio até é justo 'desde que se deixe espaço' parece-me verdadeiramente revoltante.

    Força com o movimento.

    Parabéns!

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  7. Acerca da largura necessária para os peões, transcrevo a seguir um excerto do "REGULAMENTO MUNICIPAL DE ELIMINAÇÃO DE BARREIRAS ARQUITECTÓNICAS PARA PESSOAS COM MOBILIDADE CONDICIONADA" da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira (que esta autarquia, como muitas outras, não cumpre):

    "As seguintes normas serão adaptadas em todos os novos arruamentos a construir e gradualmente serão introduzidas nos arruamentos já existentes e, na medida do possível, em arruamentos que venham a ser objecto de obras de reconstrução:
    1. Nos novos arruamentos, os passeios deverão ter uma largura não inferior a 2,25 metros, assegurando um espaço livre de circulação sem obstáculos de 2,00 m.
    2. Em áreas consolidadas e núcleos antigos, os passeios deverão ter uma largura mínima não inferior a 1,20 m; caso esta não seja viável dever-se-á optar por uma via de utilização mista, com recurso a materiais distintos do asfalto, dissuasores de velocidade e em que a prioridade é do peão;(...)

    Depreendo assim que os técnicos que elaboraram este regulamento consideraram necessária uma largura útil de 2,00m (suficiente para se cruzarem dois utilizadores de cadeiras de rodas), admitindo como mínimo 1,20m. Ambos os limites são superiores ao indicado por JS.

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  8. Meus amigos indignados com papelinhos, colas e afins... TIREM OS CARROS DOS PASSEIOS e deixem-se de conversa!

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  9. Caro Eduardo Castro Solla
    Aplaudo vivamente a tua atitude de publicamente comunicares que não participas mais nesta fantochada. Afinal esta campanha já deu os seus frutos, todos ficaram a saber que vamos ter menos um carro em cima do passeio, o teu.
    Boas pedaladas.

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  10. Peões..... não pensem só no vosso umbigo quando atravessarem uma rua, fora da passadeira (mas toda a gente o faz).

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  11. tem toda a razão em relação aos peões - mas isso não justifica que se possa estacionar o carro em cima do passeio só porque os peões atravessam fora da passadeira.

    Não se trata de uma guerra entre peões e automobilistas - muitas pessoas que condenam o estacionamento egoísta também são automobilistas (como eu) e não radicais que querem queimar carros. Isso é muito simplista. O que está em causa é a crítica a uma atitude pouco civilizada - também aplicada a quem deita o lixo no chão ou não apanha os dejectos do seu cão, etc. etc.

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  12. Como co-autor da resposta ao JS, peço desculpas. Não nego nada do que disse, mas admito que errei o tom. Ele escreveu com humildade e abertura de espírito e respondemos com uma ironia que não se aplicava. As minhas desculpas, ao JS e a todos os que se sentiram mal com o que leram.

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  13. Boas noites,

    Primeiro, gostaria que os que vêm aqui reclamar contra este blog e os seus ideais, o fizessem com educação e que ao menos aprendessem a escrever português correctamente... Tenho reparado que os comentários mais mal educados, são também os que mais erros têm. Têm direito de reclamar (mesmo sem razão), mas com respeito, educação e já agora, algum cuidado com o português.

    Segundo, farto-me de rir com certos comentários irritados, que recorrem a desculpas como "preocupações ambientais" e os coitadinhos que morrem à sede, para basicamente contrariar o objectivo principal do movimento e desconversar o erro que fizeram. Parece que andam a ver demasiada TV e aprenderam a responder "à político".

    Por ultimo, desde quando é que alguém usa água para tirar cola? Hello?! Álcool etílico soa a familiar? É barato, é eficiente para remover a cola e até desinfecta o local onde o autocolante foi colado. Agora até já estou a ajudar os cidadãos que erraram e, que por isso, levaram com um autocolante amarelo...

    Aos autores do blog, continuem com o bom trabalho e não se deixem atingir por estes "tugas" furiosos e mal educados.

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  14. Sinceramente não percebo onde está o problema da resposta??

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  15. "humildade e abertura de espírito"? Não está na cara que o gajo ao falar na agua que gastou e nas suas preocupações ecológicas está a ser matreiro ou a gozar-vos na cara? :-)

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  16. PASSEIOS DE NINGUÉM

    de: Fernando M.Cardoso ([email protected])

    Juntando os carros nos passeios à calçada portuguesa...

    Sempre foi comum dizer-se que ‘Tempo é Dinheiro’!?. A sabedoria popular tem a característica de ser oportuna, precisa e pertinente. Com apenas três palavras, este velho ditado popular pretende evidenciar que é necessário rentabilizarmos o nosso tempo. Hoje em dia, para além do tempo, começa a haver a necessidade de rentabilizarmos o nosso espaço. Provavelmente, fará sentido começar a dizer-se que ‘Espaço é Dinheiro’!? ou, se optarmos por um dos mecanismos de gestão mais em voga dos últimos tempos, a fusão, poderíamos reinventar o velho ditado e passar a afirmar que ‘Tempo e Espaço são Dinheiro’!?
    Serve esta pequena introdução para vos falar sobre os Passeios. Refiro-me aos passeios que temos em Portugal, aqueles que fazem parte da nossa via pública e que existem em todas as nossas cidades, vilas e aldeias. Carinhosamente, vou baptizá-los por ‘os nossos passeios’. Toda este espaço junto, todos esses metros quadrados somados, constituem uma área com uma dimensão a perder de vista e que, na sua essência, não serve para quase-nada!!? É verdade, quase ninguém os usa porque não foram feitos para serem usados pelas pessoas. Um destes dias estava a ver televisão e a minha atenção despertou para um anuncio que dizia, entre outras coisas, que: ‘podem tirar-me o fado, podem tirar-me a visão, podem tirar-me a calçada, podem até tirar-me a fala, mas não me tirem o azeite…’ Só depois percebi, que não era verdade, de facto ninguém queria remover a velha calçada, muito pelo contrário, tratava-se apenas de uma técnica de comunicação que apelava à nostalgia pela positiva.
    A tradição da calçada ‘dos nossos passeios’ é, segundo alguns, mais uma das montras vivas representativas da nossa cultura centenária e que devemos manter, no mínimo, por mais mil anos! Eu penso exactamente o contrário. Eu digo com toda a convicção, que ‘os nossos passeios’ são um contribuinte líquido para a exclusão. Excluem quase tudo e quase todos. Diariamente, nos locais mais diversos, todos nós vemos pessoas a caminhar à beira ‘dos nossos passeios’ ou, dito de outra forma, pela beira da estrada. É verdade, as pessoas escolhem, naturalmente, os caminhos que consideram mais adaptados à sua locomoção. Infelizmente, ‘os nossos passeios’ não têm essa característica fundamental. O problema complica-se ainda mais quando pensamos nos cidadãos com mobilidade reduzida, nos pais com os carrinhos de bebés, nas pessoas mais idosas ou mesmo nas mulheres portuguesas que arrisquem o uso de sapatos de salto alto. Por isso os vemos todos os dias a caminhar na estrada, na direcção dos automobilistas, colocando a sua vida, e a dos outros, em risco. Os deficientes motores, que necessitam de se deslocar em cadeiras de rodas, acabam por ser obrigados a converter-se em condutores de ligeiros sem matrícula, muito provavelmente, sem carta para o efeito. Não me lembro de encontrar no novo código da estrada, normas que contemplem esta evidência. Afinal existem mais duas grandes categorias de veículos para além dos pesados e dos ligeiros, a saber, as cadeiras de rodas com motor e as cadeiras de rodas sem motor!
    Mesmo assim, quando ‘os nossos passeios’ têm a dimensão adequada, coisa rara, acabamos por encontrar de quase tudo a bloqueá-los: árvores, paragens de autocarro, ecopontos, obras, cabines telefónicas, postes de electricidade, sinais de trânsito, etc. Sei que, no enquadramento das obrigações comunitárias, tudo isto é ilegal mas parece que ninguém está interessado em cumprir ou fazer cumprir as leis. E os carros estacionados em cima dos passeios!? Será normal? De facto, esta vossa iniciativa do Passeio Livre, vem testemunhar a vergonha generalizada e tugamente institucionalizada. Esse é um problema que depende apenas do nosso civismo ou da falta dele e, somos nós enquanto cidadãos, que o temos de resolver. Este vosso contributo pode ser o inicio de uma batalha difícil. Ainda assim, acredito seriamente que as Policias e as Entidades Fiscalizadoras poderiam ajudar, se é que não há nenhum exagero neste tipo de pedido! Ainda assim, e no meio de tantos obstáculos, acaba por ser a velha e desadequada ‘calçada portuguesa’o maior dos inimigos. Um contratempo desnecessário e dispendioso. Surgiu no século XIX e é ainda amplamente usada no calçamento em quase todas as cidades. Eu diria que é cada vez mais actual, muito embora já estejamos no século XXI. É um piso geralmente desnivelado, que se baseia em pedras de formato irregular, geralmente de calcário e por vezes pontiagudas, intervaladas com buracos de maior ou menor dimensão. Desnivelado porque na grande maioria dos casos nem se dão ao trabalho de nivelar o terreno e, com muitos buracos, porque também não se dão ao trabalho de os compactar devidamente. É, certamente, um piso excelente para algumas modalidades radicais mas, fica muito aquém de oferecer a segurança e o conforto necessários a quem se atreva a pisá-los sem usar equipamento adequado. As cadeiras de rodas só poderiam circular se os pneus fossem idênticos aos dos tractores uma vez que não existem, ou não conheço, outro tipo de equipamento que seja viável para o efeito. Mas, alguns, são bonitos. Formam padrões decorativos pelo contraste entre as pedras de distintas cores, normalmente, o branco, o preto, o marrom e o vermelho. Bonitos mas inúteis. Não sou nem tenho que ser contra este tipo de Decoração, apenas considero que devem coexistir alternativas ou então, fazê-lo apenas nas grandes praças e nunca nos passeios. Aí sim, podem fazer-se grandes ‘decorações’ para nos elevar o ego. Quem tem responsabilidades nesta área devia olhar para os outros países da Europa e perceber porque é que as pessoas usam, de facto, os passeios!? É fácil, até pela televisão se percebe que os passeios na maioria dos países da comunidade não são como ‘os nossos passeios’, são Passeios a sério. As pessoas usam-nos das mais variadas formas: caminhando, de bicicleta, de patins, etc e os que têm mobilidade reduzida não encontram obstáculos. Criamos tantas comissões neste país que, me atrevo a sugerir, que criem a Comissão de Análise para os Passeios do SecXXI. O trabalho a desenvolver é simples: basta viajar, olhar com atenção e tirar notas. Temos que repensar os Passeios para evitar os erros cometidos e que continuamos a cometer. Vila Nova de Gaia já o começou a fazer. Qualquer um pode deslocar-se pelo passeio marítimo sem qualquer tipo restrições. Na cidade, a maior parte dos passeios são acessíveis e a sensação é boa.
    Não uso o ‘Nunca’ nem o ‘Para Sempre’ mas tenho quase a certeza que, tal como não consigo deslocar-me na minha cadeira de rodas em sítios como o Parque das Nações ou na nova Marina de Lagos, também já não será no meu tempo de vida que vou usar a maioria de ‘os nossos passeios’. Lamento e sinto falta.

    Fernando Mota Cardoso

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