QUANTO CUSTA AFINAL TER CARRO?

No Passeio Livre temos uma visão mais geral e menos limitada do problema do estacionamento ilegal. Mesmo que as autoridades passassem coimas de 500€ a cada infrator, o estacionamento ilegal continuaria a existir, e a pressão sobre a ocupação do espaço pedonal poderia ser canalizada simplesmente para a redução de passeios para se dar aos automóveis mais estacionamento legal.

Assim, a questão do espaço (ou falta dele) está inteiramente ligada à questão do estacionamento ilegal. Lisboa foi conquistada pelas tropas afonsinas em 1147, numa altura que já existia a Mouraria e Alfama, com as suas ruas esguias e labirínticas. Daí até a princípios do séc. XX, nunca os urbanistas lisboetas pensaram que esta cidade teria automóveis, como tal não a conceberam para esse intuito. Marquês de Pombal quando manda desenhar a Baixa com largas ruas, não foi a pensar em automóveis (que nem existiam), foi tão-somente para evitar desastres futuros como o que aconteceram em 1755, quando os edifícios desabaram uns sobre os outros por estarem muito perto entre si. Ruas mais largas melhoravam também a higiene urbana, arejavam a cidade e permitiam dar mais espaço às pessoas. A exceção surgiu já em meados dos anos 60 do séc. passado com as famigeradas avenidas novas, que surgiram como imitação bacoca "à portuguesa" das cidades norte-americanas, muito em voga então, ou seja, avenidas largas e muito espaçosas, mas dedicas essencialmente ao automóvel. Nem Londres, nem Berlim, nem mesmo Paris, têm tão largas avenidas dedicadas quase na totalidade ao automóvel, tão perto da baixa da cidade. Tais situações contemplamos apenas por exemplo em Nova Iorque, com por exemplo a quinta avenida, bem no coração da cidade nova-iorquina.

Assim, um problema que incide diretamente nos números do estacionamento ilegal, é a falta de espaço público, devido à elevada taxa de motorização de Portugal. Não podemos desvincular os dois factos. Portugal tem a terceira maior taxa de motorização da UE e só em Lisboa entram por dia mais de 500 mil veículos. Assim, cria-se naturalmente uma enorme pressão sobre o espaço pedonal. Não pensamos que seja má vontade dos automobilistas, ou que seja mesmo má fé. Poderá ser em parte, mas o problema da falta de espaço, é mesmo muito crucial.

Assim, partilhamos este simulador para que fique ciente de quanto custa no TOTAL ter carro. Esperamos que seja mais um a vender o carro (ou usá-lo bastante menos) e a diminuir a taxa de motorização do país, evitando a enorme pressão que existe para a ocupação do espaço pedonal


4 comentários:

  1. Quando se fala em "falta de espaço para estacionar", normalmente está subentendido "espaço gratuito, ilimitado e à porta de casa ou do emprego"...
    Porque, na realidade (e pelo menos em Lisboa), basta visitar um qualquer parque subterrâneo para se ver que não é assim.
    Já que falamos das "Avenidas novas", visitem-se os parques da Av. Roma, Praça de Londres, Alameda, Campo Pequeno, Praça do Chile...
    Não só eles têm (TODOS e a QUALQUER HORA) lugares vagos, como alguns até fecham pisos inteiros por falta de clientes (casos da Alameda e do C. Pequeno!
    Poderemos discutir se são caros ou não, mas isso é outro assunto.
    Já agora, repare-se que o condutor está disposto a pagar as prestações, as reparações, o seguro, a IPO, as portagens, o combustível... Enfim, tudo, menos o que devia ser o mais importante: espaço para guardar o carro!

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    1. Completamente de acordo. Conheço muita gente que tem carro apenas por vaidade, snobismo, marca d'água pessoal. A utilização que dão ao veículo de 4 rodas é mínima, chegando ao ridículo de apenas o utilizarem para irem ao supermercado... Gente que vive em casas com rendas baixíssimas - por isso dá para pagar o seguro, o combustível, a manutenção e todas as despesas inerentes ao mesmo -, que podia muito bem utilizar os transportes públicos mas... transportes públicos? Isso é coisa que essa gente alguma vez poderia admitir utilizar? Estar à espera da carreira, ter de cumprir horários que nem sempre são os indicados, estar ao sol, à chuva, ao frio ou ao calor (estraga o penteado e faz mal à pele...), ter de ir misturado com a ralé..., ter de andar uns metros da paragem até casa ou até ao local de destino??? Ná... O pópózinho é uma marca d'água dos parolos que assim pensam. Por isso a utilização ilegal, abusiva e selvagem dos passeios, em ruas com passeios que apenas dão para duas pessoas lado a lado, mas a lata, essa, tem de ficar a um metro (não será demasiado...?) da porta de casa e quem quiser que circule pela estrada...
      Portugal é um país onde a cultura cívica e a cidadania, não existem, aliás, nunca existiram, e a parolice é senhora e dona das mentalidades tacanhas e retrógradas da maioria.
      Não só na área do estacionamento selvagem como em quase tudo. Repare-se que andamos há quase QUARENTA ANOS a sermos governados por crápulas aldrabões e são sempre os mesmos a ganharem eleições...! E depois vêm para as ruas manifestarem-se pela queda daqueles em quem votaram... Simplesmente anedótico...

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  2. Vale também a pena pensar nos casos em que o estacionamento selvagem é praticado em dias e horas em que os lugares são abundantes e gratuitos.
    Sendo o estacionamento gratuito, não há fiscalização, e o condutor-grunho dá largas à sua natureza.

    E não são só os passeios indevidamente ocupados que preocupam. As paragens da Carris transformadas em parques de estacionamento provocam problemas de fluidez aos transportes públicos (mas não só) o que, em tempos de crise, é absolutamente inaceitável.

    E não sejamos optimistas. O problema do trânsito (e do estacionamento, por extensão) é um problema político (por definição de "polis", "cidade"), e nada, nessa frente, nos suscita esperança.
    Quer a nível nacional (as Divisões de Trânsito da PSP e a GNR dependem do Governo), quer a nível autárquico (polícias municipais, EMELs, etc) a sensibilidade dessa gente (pelo menos em Lisboa e arredores) é ZERO.
    E, tendo em conta que essa incúria abrange todos os partidos sem excepção, deixemo-nos de ilusões. Até mesmo os simpáticos independentes de Lisboa têm um "vereador dito da mobilidade" cuja actuação, no que toca à mobilidade dos peões, ainda é menos do que zero.

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  3. Meus caros é verdade, já para não falar no estatuto sacral que tem o automóvel, qual imagem de virilidade de macho.

    http://www.youtube.com/watch?v=orupuK-LMeo

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