carta de um munícipe

«Caro Antonio Costa

Trabalho na Avenida do Brasil e assisto ao inicio da construção de uma ciclovia sobre o passeio norte. tenho as maiores duvidas acerca da decisão de não interferir com a faixa de rodagem em detrimento de um passeio antes largo e seguro. Estou convencido de que e uma opção perigosa e de que vamos assistir a acidentes graves – esse passeio e percorrido pelos meus vizinhos na sua esmagadora maioria idosos, pelos utentes do parque de saúde ex Júlio de Matos sob o efeito diário de medicamentos que limitam consideravelmente a percepção, em suma, por grupos de risco para quem uma colisão pode significar a causa do fim de uma vida, ou uma diminuição grave da qualidade da mesma – e isto numa avenida com duas faixas de rodagem automóvel em cada sentido.

uma ciclovia oferece um piso apetecível para um peão, regular, liso e confortável, isento de mobiliário urbano, de paragens de autocarro, de caldeiras de arvores, de automóveis estacionados, uma trajectória linear e desimpedida. e uma escolha inteligente escolher o caminho mais fácil. Parece-me pois perverso este ‘presente envenenado’. um passeio e um plano de movimento complexo, onde pessoas se deslocam em ambos os sentidos de qualquer direcção, a diferentes velocidades, desviando-se e ultrapassando-se umas as outras sem aviso prévio, evitando trelas de cães, sacos e carrinhos de compras, crianças, pombos, entrando e saindo de edifícios, frequentemente com a atenção comprometida por chamadas de telemóvel, pelo jornal, pela conversa uns com os outros, em suma, e um domínio onde os graus de liberdade de movimento e a variação de velocidade são infinitamente mais complexos do que aqueles permitidos e praticados por um condutor num veiculo motorizado, ou não, numa faixa de rodagem. introduzir num passeio bicicletas, skates e patins em linha – penso que e razoável referir estas três utilizações, pelo menos – faz-me antever colisões potencialmente muito perigosas.

O passeio sul foi recentemente reduzido com estacionamento automóvel, o passeio norte sofre agora esta intervenção, e prossegue o estacionamento ilícito sobre os passeios apesar das campanhas pontuais de fiscalização, manifestamente insuficientes (pela primeira vez em 10 anos vi os passeios sem automóveis por breves momentos, uns dias somente, mas prossegue o estacionamento ilícito).

Para terminar, reconheço e aprecio outras acções e actividades iniciadas ao nível da promoção da qualidade e segurança dos passeios de Lisboa – nomeadamente o inicio da fiscalização do estacionamento ilícito (tem de ser progressivamente menos tímido, constante e inflexível; não podemos, por exemplo, ter agentes de uma qualquer policia de plantão numa esquadra, no interior de uma viatura, a acompanhar uma obra, a fazer uma ronda, sob o olhar de quem pareça normal estacionar sobre um passeio, e isto quando não são os mesmos em flagrante incumprimento), o alargamento de passeios (precisamos de eliminar definitivamente as faixas de calcada com ‘um palmo’ de largura, gostei de ver os passeios perto de São Bento a serem alargados), a plantação de arvores (os benefícios ambientais são um factor decisivo para a cidade).

com os meus cumprimentos,»
Carta de um leitor, enviada ao [email protected], CC ao PL.

9 comentários:

  1. Será que o Passeio Livre serviu de catalisador para este cidadão escrever esta carta?
    Será que começa a haver massa crítica nos peões?

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  2. A "ciclovia" dos Olivais para o Parque das Nações, ainda em fase de construção, é feita em cima do passeio, atravessando várias vezes as ruas e avenidas.
    Quando o passeio deixa de ter largura para permitir a "ciclovia", a mesma continua aravés de umas placas metálicas fixas à calçada...

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  3. Como ciclistas acho esta solução da Av do Brasil sobre o passeio um insulto aos ciclistas e peões de Lisboa. A CML não pode fazer estas coisas sem consultar as pessoas nem ter a minima noção dos problemas que pode causar uma ciclovia sobre o passeio. Ainda por cima em Portugal sou obrigado a usar a ciclovia pondo-me a mim e aos outros em perigo!

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  4. Quando estive em Viena, verifiquei que por lá existiam ciclovias em toda a cidade. Outra coisa que reparei, é que em muitas zonas estas mesmas ciclovias ocupavam parte do passeio. As zonas de atravessamento da estrada eram contíguas às dos peões, mas com sinalização luminosa própria.
    Não foram poucas as vezes em que eu ou algum dos meus amigos nos tivémos de desviar quase no último momento de ciclistas. Notei porém, que parecíamos ser os únicos com este problema, o de circular correctamente num passeio com uma ciclovia. Os nativos, sempre me pareceram à vontade, sem grandes preocupações, claramente nunca invadindo a ciclovia como nós tantas vezes distraídamente fizemos.
    No fim, só posso concluir que se trata de uma questão de hábito. Nós por cá não estamos acostumados a estas "coisas" das ciclovias, nem na estrada nem nos passeios. Tanto que ora estacionamos as latas nas ditas (há muitos exemplos neste blog), ou andamos distraídamente nelas como aconteceu comigo e com os meus amigos em Viena.
    Não discordando totalmente do conteúdo da carta, não me parece que uma ciclovia num passeio possa ser assim tão perigoso. Acima de tudo, é uma questão de hábito para quem circular no mesmo, seja a pé, seja de patins ou bicicleta, para respeitar as zonas de cada um.

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  5. Eu teve que montar um «tlim-tlim» na minha bike para andar nas ciclovias... e ainda me olham sempre com má cara!

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  6. Bruno, habituar habituamo-nos a tudo! Como pode observar aqui neste blog até nos habituamos aos carros sobre o passeio. Também os motoristas que escrevem para aqui "acham" que não faz mal nenhum estacionar nos passeios. E nem é muito perigoso! Eles até deixam sempre um espaço!

    Hermenegildo, se entrasse com o seu carro na minha casa eu tb o olharia com má cara. O mais triste é que a culpa da invasão não é sua!

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  7. Alguém já reparou que no inicio da av. do brasil está um poste mesmo no meio da ciclova? uma verdadeira obra de "engenharia"
    e tb no inicio dessa ciclovia, o passeio e respectiva ciclovia são parque de estacionamento da escola de condução?

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